segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

AFINIDADE


"Nem sempre conseguimos dizer tudo só com palavras mesmo assim esse texto do Artur Távola consegue nós passar muito ..."






A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
 
delicado e penetrante dos sentimentos.
 
E o mais independente.
 
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
 
as distâncias, os fins, a  inconstância e as impossibilidades.
 
Quando há afinidade, qualquer reencontro
 
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
 
no exato ponto em que foi interrompido.
 

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
 
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
 
Do subjetivo para o objetivo.
 
Do permanente sobre o passageiro.
 
Do básico sobre o superficial.
 

Ter afinidade é muito raro.
 
Mas quando existe não precisa de códigos
 
verbais para se manifestar.
 
Existia antes do conhecimento,
 
irradia durante e permanece depois que
 
as pessoas deixaram de estar juntas.
 
O que você tem dificuldade de expressar
 
a um não afim, sai simples e claro diante
 
de alguém com quem você tem afinidade.
 

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
 
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
 
É ficar conversando sem trocar palavras.
 
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento...

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
 
nem sentir para, nem sentir por.
 
Quanta gente ama loucamente,
 
mas sente contra o ser amado.
 
Quantos amam e sentem para o ser amado,
 
não para eles próprios.
 

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
 
É olhar e perceber.
 
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
 
jamais explicar: apenas afirmar.
 

Afinidade é jamais sentir por;;;
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
  raiva ou sentimento ruim ...
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
 
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
 
Aceita para poder questionar.
 
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
 

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
 
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
 
quanto das impossibilidades vividas.
 

Afinidade é retomar no ponto em que
 
parou sem lamentar o tempo de separação.
 
Porque tempo e separação nunca existiram.
 
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
 
para que a maturação comum pudesse se dar.
 
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
 
cada vez mais a expressão do outro sob a
 
forma ampliada do eu individual aprimorado.

Artur Távola"